Os Dirty Three são uma banda de três pessoas originária de Melbourne, e são daquelas bandas que servem de exemplo de que o "less is more" pode ser mais do que um chavão usado no design. Não que a sua música seja minimal ou simplista, é antes a construção criada entre os instrumentos que mostra que, numa relação saudável de bateria-violino-guitarra, o trio soa a muito sem ter que soar a um sexteto. Não há explícitos devaneios de virtuosismo, o que torna a musica dos Dirty Three bastante humana, expressiva e sensível, um sensível que é sentimental sem ser lamechas. Mas será difícil tentar adjectivar um trabalho diferenciado de quase vinte anos sem pecar nalgumas atribuições, por isso, tendo-me já antecipado nas considerações que fiz, escolho um dos álbuns de que mais gosto: Ocean Songs.
O mar, como bem elucida o nome do álbum, é o tema nuclear deste trabalho, não fosse a Austrália rodeada inescapavelmente de água. Mas não se trata apenas de um conceito que fica preso num nome, há uma "oceanidade" nas músicas, há barcos instrumentais, mas com uma voz humana, lentos, a cortar suavemente as ondas. As músicas às vezes crescem substancialmente como uma vaga, até que rebentam na areia, dando lugar a uma quietude que é própria dum pós-tsunami. É um truque a que muitas das bandas post-rock instrumental nos habituaram, diz que esses crescentes fazem crescer a emoção no ouvinte. E diz muito bem. O Ocean Songs tem dessas coisas e resulta.
Aqui o rock andou a dormir uns dias na casa do jazz, e é o que se vê. Ou melhor, ouve. Há ainda uns certos laivos dum folk sofisticado que acredito serem primordialmente adicionados pelo meloso violino de Warren Ellis, um multi-instrumentista que toca também com os The Bad Seeds e fazia parte dos extintos Grinderman. Curioso exercício é imaginar a voz do Nick Cave sobre algumas músicas; não acontecendo, contentemo-nos com o seu contributo instrumental na Sea Above, Sky below que o vídeo mais a baixo deixa ver. O balanço dos instrumentos, e isto é atributo geral na carreira dos Dirty Three, torna as músicas bastante cadenciadas, com o ritmo perfeito para fazer das músicas plataformas de introspecção, ou mais bem dito, abstracção. Mas, por outro lado, servem perfeitamente o propósito de música ambiente, para quem gosta de ler/estudar com esse encosto.